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Rio voador: o devastador fenômeno que contribuiu com as chuvas torrenciais em Petrópolis

Desmatamento e mudanças climáticas podem intensificar o poder desse corredor de umidade sobre o Brasil
Por History Channel Brasil em 21 de Fevereiro de 2022 às 11:48 HS
Rio voador: o devastador fenômeno que contribuiu com as chuvas torrenciais em Petrópolis-0

“Rio voador” é o nome do fenômeno que envolve uma massa de fluxo aéreo de água que viaja em forma de vapor a partir do Oceano Atlântico tropical e atravessa a América do Sul, alimentada pela umidade proveniente da Amazônia. Esse corredor de umidade é um dos fatores que podem explicar as chuvas torrenciais que atingiram Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Umidade atmosférica

Quando esses rios de umidade atmosférica, que viajam velozmente sobre o Amazonas, se chocam contra a Cordilheira dos Andes, desencadeiam chuvas torrenciais sobre o sul do território brasileiro, Uruguai, Paraguai e o norte argentino.  Segundo os especialistas, esse corredor de umidade, vital para a América do Sul, sobrevoa a superfície terrestre a uma altura de até dez quilômetros do solo, carregando parte da água que evapora no norte para outras regiões.

Desmatamento e mudanças climáticas podem intensificar o poder desse corredor de umidade sobre o Brasil. Esse mesmo fenômeno desempenhou um papel fundamental nas devastadoras chuvas que, durante as últimas semanas, caíram sobre a cidade de Petrópolis. Segundo o meteorologista José Marengo, as altas temperaturas do Oceano Atlântico tropical geram uma evaporação intensa que se soma à transpiração da floresta amazônica. 

“Imagine então que chegam ventos mais ou menos fortes, os ventos alísios, que transportam toda essa umidade nas camadas mais baixas da atmosfera, e que são alimentados pela umidade reciclada pela Amazônia”, explicou Marengo. Quando um rio voador “se encontra com os Andes, adquire uma velocidade maior em seu núcleo, que constitui um ‘low level jet’, um jato de nível baixo, que é o que transporta maior quantidade de umidade mais rápido”, completou.  Finalmente, esse fluxo de ar super úmido “faz uma curva sobre o sudeste do Brasil e chega à Bacia do Rio da Prata, causando chuvas assim”, concluiu. 

Rio Amazonas
Rio Amazonas


Antonio Nobre, cientista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) , explica de que modo as árvores da floresta amazônica influenciam na atmosfera: "Medimos a evaporação da floresta em milímetros, como se estivéssemos medindo a espessura de uma folha de água acumulada no chão".  O especialista diz que somente uma árvore frondosa da Amazônia, com uma copa de aproximadamente 20 metros de diâmetro, transpira mais de mil litros de água todos os dias, e que hoje existem cerca de 400 bilhões de árvores amazônicas de todos os tamanhos. 

“Nós fizemos a conta, que também foi verificada de forma independente, e surgiu o incrível número de 20 bilhões de toneladas (ou 20 bilhões de litros) de água que são produzidos todos os dias pelas árvores da Bacia Amazônica".”, afirmou. 

Imagens
Tânia Rêgo/Agência Brasil/Divulgação e iStock