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Conheça o "manual do RH" para o tratamento de escravos

Por History Channel Brasil em 09 de Dezembro de 2016 às 11:58 HS
Conheça o "manual do RH" para o tratamento de escravos-0

Este artigo foi criado pelo HISTORY em parceria com o Museu AfroBrasil

 

Muito do que se sabe hoje sobre os escravos vem de cartas e testamentos, registros dos poucos homens que tinham o conhecimento e o poder da escrita. As palavras que resistiram ao tempo mostram o olhar dos donos das fazendas sobre seus escravos, tratados como mercadoria e propriedade.

Um exemplo são as “Instruções para a administração das fazendas”, escritas em Areias, em 1870. O município fica no Vale do Paraíba, norte do estado de São Paulo, e era um dos principais produtores de café no século 19. Na carta, o item “Tratamento dos escravos, respeito a roupas e comidas” revela especial atenção à alimentação, que deveria ser bem cozida, forte e variada o suficiente para que trabalhassem mais. Muitos dos pratos, inclusive, nós consumimos ainda hoje.

Vale lembrar que os chamados “crimes” cometidos pelos escravos, como tentativas de fuga, eram na verdade atos de resistência. Confira:

 

Alimentação

  • “Os escravos logo que se levantarem tomarão café bem feito, e adoçado, o equivalente a 2 xícaras, cujo café será feito com a escolha bem limpa de qualquer cisco, e que seja bem torrado”.
  • “Ao almoço comerão feijão bem cozido e bem temperado de sal, gordura e pimenta, com angu de milho (…) reduzido a fubá de finura regular, o qual deve ser peneirado, e bem cozido, o que se conhece pelo cheiro de pão que deve ter, assim como pela introdução dum pauzinho liso, que deve sair sem aderência de massa (…)”
  • “O feijão quase sempre deve ser misturado com ervas ou couves, e a preparação da carne também  deve variar, sendo às vezes ensopado com abóbora, pepino, couve etc”.
  • “A ceia deve ser leve para evitar indigestões, será variada, canjica bem limpa e bem cozida de milho branco e adoçada, ou mingau de fubá, ou arroz, mandioca temperada com gordura, abóboras com angu, ervas com angu, ou o que a estação oferecer (…)”. 
  • “Quando acontecer o tempo estar chuvoso, deverão os escravos na sua chegada de noite da roça achar o café pronto, no qual se lançará por cada 20 escravos, uma garrafa d’aguardente e uma libra de açúcar (…)”

 

Castigos

  • “Os escravos no geral têm bastante inteligência para descobrir as fraquezas da pessoa pela qual estão governados; eles sabem quando merecem castigo (…)”.
  • “Os castigos devem ser certos, e logo aplicados em proporção ao crime, e nunca excessivos; e para evitar o excesso nenhum feitor poderá dar mais que 6 vergalhadas ao escravo, e o castigo por mando do administrador nunca deve exceder a 24 vergalhadas (…)
  • “(…) se o crime cometido (…) merece castigo maior, o administrador dará parte ao administrador geral, aguardando as ordens do mesmo e conservará se julgar conveniente o criminoso no tronco até a decisão”.
  • “(…) aplicar os castigos em relação às naturezas dos criminosos, e sempre com sossego, e sem rancor, evitando o mais possível as palavras injuriosas (…). O escravo vendo o feitor encolerizado, tenta fugir, e aumenta o crime, e portanto também o castigo”.
  • “O escravo que der parte de doente deve ser mandado para o hospital (….); reconhecendo-se que ele não está doente, deve-se proibir o fumar, botá-lo a dieta rigorosa, e fazê-lo catar café (…)”.

 

Fonte: Trecho do manuscrito intitulado Instruções Gerais para Administração das Fazendas, 1870, coleção particular. Negro de Corpo e Alma. Mostra do Redescobrimento. 2000. Pagina 108.

 

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