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Oito razões pelas quais Roma caiu

Por History Channel Brasil em 07 de Janeiro de 2019 às 09:43 HS
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No fim do século IV, o Império Romano do Ocidente desmoronou após quase 500 anos exercendo o papel de maior superpotência do mundo. Historiadores atribuem a culpa do colapso a centenas de fatores diferentes, que abrangem desde falhas militares até impostos extorsivos, passando por desastres naturais e mudanças climáticas. Outros defendem que o Império Romano não ruiu em 476 d.C, já que sua porção oriental continuou por mais mil anos, na forma do Império Bizantino. Enquanto o motivo – e a data – da queda permanecem em debate até hoje, algumas teorias tomaram a dianteira como as mais populares para o declínio e desintegração do Império Romano. Continue a ler para descobrir oito razões pelas quais um dos impérios mais lendários da história finalmente chegou ao fim. 

 

[ASSISTA A REBELIÃO DOS BÁRBAROS. ESTREIA SEGUNDA (12/09), ÀS 22H40]

 

Invasões de tribos bárbaras

A teoria mais simples para o colapso de Roma aponta para uma série de derrotas militares diante de forças estrangeiras. Roma teve que lidar com tribos germânicas por séculos, mas nos anos 300s, grupos “bárbaros” como os godos haviam se estabelecido além das fronteiras do Império. Os romanos resistiram a um levante germânico no fim do século IV, mas em 410, o rei visigodo Alarico saqueou com sucesso a cidade de Roma. O Império passou as próximas décadas sob ameaça constante antes da “Cidade Eterna” ter sido invadida novamente em 455, dessa vez pelos vândalos. Finalmente, em 476, o líder germânico Odoacro comandou uma revolta e depôs o imperador Rômulo Augusto. Daí em diante, nenhum outro imperador romano reinaria novamente de seu posto na Itália, o que faz muitos citarem 476 como o ano em que o Império Romano do Ocidente foi ferido de morte. 

 

Problemas econômicos e excesso de confiança no trabalho escravo

Mesmo quando Roma estava sob ataque de forças externas, o Império também estava desmoronando graças a uma crise econômica severa. Guerras constantes e gastos excessivos dilapidaram significativamente os cofres imperiais. Impostos escorchantes e inflação também contribuíram para aumentar o abismo entre ricos e pobres. Na esperança de evitar os coletores de impostos, muitos membros da alta classe fugiram e fundaram feudos independentes. Ao mesmo tempo, o império era chacoalhado por um déficit de mão-de-obra. A economia de Roma dependia de escravos para cultivar os seus campos e trabalhar como artesãos e o poderio militar do Império tradicionalmente fornecia novas levas de povos conquistados para atuar como trabalhadores forçados. Mas quando a expansão estancou no segundo século, a provisão de escravos e outros tesouros de guerra começou a secar. Outro golpe veio no século V, quando os vândalos reivindicaram o norte da África a começaram a perturbar o comércio do Império ao rondar o Mediterrâneo como piratas. Com a economia abalada e sua produção comercial e agrícola em declínio, o Império começou a perder o controle sobre a Europa.

 

A ascensão do Império Oriental 

O destino de Roma foi parcialmente selado no final do terceiro século, quando o Imperador Diocleciano dividiu o Império em duas metades – o Império do Ocidente, sediado na cidade de Milão, e o Império do Oriente em Bizâncio, conhecida mais tarde como Constantinopla. A divisão fez com que o império fosse mais facilmente governável em curto prazo, mas com o tempo, as duas metades foram se afastando. Ocidente e Oriente fracassaram em trabalhar juntos adequadamente para combater ameaças externas, além de discordarem constantemente a respeito de recursos e ajuda militar. Enquanto a distância aumentava, o Império do Oriente, onde a maioria da população falava grego, enriquecia, o Ocidente, que falava latim, caía em uma crise econômica. Mais importante, a força do Império do Oriente serviu para desviar as invasões bárbaras para o Ocidente. Imperadores como Constantino garantiram que a cidade de Constantinopla fosse fortificada e bem protegida, mas a Itália e a cidade de Roma – que tinha apenas valor simbólico para muitos no Oriente – ficaram vulneráveis. A estrutura política do Ocidente iria finalmente se desintegrar no século V, mas o Império Oriental de alguma forma conseguiu resistir por mais mil anos antes de ser conquistado pelo Império Otomano nos anos 1400.

 

Expansão exagerada e gastos militares excessivos  

No seu auge, o Império Romano se estendia do Oceano Atlântico até o Rio Eufrates, no Oriente Médio, mas sua grandeza talvez também tenha sido a razão de sua ruína. Com o território tão vasto para governar, o império encarou um pesadelo administrativo e logístico. Mesmo com seu sistema de estradas excelente, os romanos eram incapazes de se comunicar rapidamente ou de forma eficaz o suficiente para gerir seu território. Roma sofria para mobilizar tropas e recursos suficientes para defender suas fronteiras de rebeliões locais e ataques externos, e no século II o Imperador Adriano foi forçado a construir sua famosa muralha na Britânia para manter seus inimigos à distância. Enquanto mais e mais recursos eram gastos no poderio militar do Império, avanços técnicos diminuíram e a infraestrutura civil de Roma decaiu. 

 

Corrupção governamental e instabilidade política

Se o tamanho de Roma dificultava sua administração, lideranças ineficazes e inconsistentes só serviram para aumentar o problema. Se ocupar a posição de imperador romano sempre foi perigoso, durante os complicados séculos II e III virou praticamente uma sentença de morte. A guerra civil trouxe caos para o império e mais de 20 homens assumiram o trono em um período de apenas 75 anos, geralmente após o assassinato de seu predecessor. A Guarda Pretoriana – os guarda-costas pessoais do imperador – assassinava e instalava novos soberanos quando bem entendia e uma vez até mesmo leiloou a vaga para quem desse o maior lance.  A podridão política também se estendia ao senado romano, que fracassava em conter os excessos dos imperadores devido a sua própria corrupção generalizada e incompetência. Enquanto a situação piorava, o orgulho cívico diminuía e muitos cidadãos romanos perderam a confiança em seus líderes.

 

A chegada dos hunos e a migração das tribos bárbaras 

Os ataques bárbaros à Roma foram parcialmente resultados por uma migração em massa causada pela invasão dos hunos à Europa no final do século IV. Quando esses guerreiros euroasiáticos invadiram através do norte da Europa, eles empurraram muitas tribos germânicas para as fronteiras do Império Romano.  A contragosto, os romanos permitiram que membros da tribo dos visigodos cruzassem a sul do Danúbio para encontrar segurança no território do império, mas trataram os migrantes com extrema crueldade. De acordo com o historiador Amiano Marcelino, oficiais romanos até mesmo forçavam os godos famintos a oferecerem seus filhos como escravos em troca de carne de cachorro. Ao brutalizar os godos, os romanos criaram um perigoso inimigo dentro de suas próprias fronteiras. Quando a opressão se tornou insustentável, os godos se revoltaram, eventualmente matando o imperador Valente do Império do Oriente durante a Batalha de Adrianópolis em 378 d.C. Chocados, os romanos negociaram uma frágil trégua com os bárbaros, que terminou em 410, quando o rei godo Alarico se dirigiu para o Ocidente e saqueou Roma. Com o Império do Ocidente enfraquecido, tribos germânicas como os vândalos e os saxões puderam cruzar as fronteiras e ocupar a Britânia, Espanha e o Norte da África.

 

Cristianismo e a perda de valores tradicionais 

O declínio de Roma coincide com a expansão do Cristianismo e alguns defendem que a ascensão de uma nova fé contribuiu para a queda do império. O Édito de Milão legalizou o Cristianismo em 313, que se tornaria a religião oficial do Estado em 380. Esses decretos encerraram anos de perseguição, mas também erodiram o sistema tradicional de valores romanos. O Cristianismo depôs a religião politeísta romana, que dava ao imperador status divino, e desviou o foco da glória do estado para uma divindade única. Enquanto isso, papas e outros líderes da Igreja assumiram papéis mais importantes na política, complicando a governança. O historiador do século XVIII Edward Gibbon foi o maior difusor dessa teoria, mas desde então sua visão tem sido amplamente criticada. Enquanto a propagação do Cristianismo pode ter tido um pequeno papel na inibição da virtude cívica romana, muitos estudiosos agora defendem que sua influência empalidece quando comparada aos fatores militares, administrativos e econômicos.

 

Enfraquecimentos das legiões romanas 

Na maior parte de sua história, o poderio militar romano era invejado pelo resto do mundo antigo. Mas durante seu declínio, a imagem das outrora poderosas legiões começou a mudar. Incapaz de recrutar soldados suficientes de cidadania romana, imperadores como Diocleciano e Constantino começaram a contratar mercenários estrangeiros para engrossar suas fileiras. As legiões, eventualmente, se encheram de germânicos godos e outros bárbaros, tanto assim que os romanos começaram a usar a palavra em latim "barbarus" no lugar de "soldado". Enquanto esses soldados provaram ser guerreiros ferozes, ao mesmo tempo não tinham lealdade ao Império e seus oficiais sedentos por poder muitas vezes se voltavam contra seus empregadores romanos. De fato, muitos dos bárbaros que saquearam a cidade de Roma e derrubaram o Império do Ocidente conquistaram suas patentes militares enquanto serviam em legiões romanas.

 


FONTE: Evan Andrews
IMAGEM: Shutterstock