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A terrível história da fazenda que escondia símbolos nazistas no interior de SP

Local, que foi tombado como Patrimônio Histórico e Cultural, foi palco de um dos episódios mais obscuros da história do Brasil
Por History Channel Brasil em 22 de Março de 2022 às 14:14 HS
A terrível história da fazenda que escondia símbolos nazistas no interior de SP-0

A Fazenda Cruzeiro do Sul, no interior de São Paulo, foi palco de um dos episódios mais obscuros da história do Brasil. O local, situado a 160 km a oeste da capital do estado, escondia um inquietante passado ligado a ações vinculadas ao fascismo e à ideologia nazista no país antes da Segunda Guerra Mundial. Os responsáveis pela propriedade também exploraram o trabalho infantil de 50 meninos negros durante as décadas de 1930 e 1940. 

Tijolos com suásticas

A verdade sobre o local só começou a ser conhecida no final dos anos 1990. Naquela época, o historiador Sydney Aguilar ensinava sobre nazismo alemão para uma turma de ensino médio quando uma aluna mencionou que havia centenas de tijolos na fazenda de sua família estampados com a suástica, o símbolo nazista. A informação despertou a curiosidade de Sydney e desencadeou sua pesquisa, que resultou na descoberta de vítimas. 

Fotos que mostram o passado nazista da Fazenda Cruzeiro do Sul
Imagem: Unicamp/Reprodução

A fazenda pertencia a uma família de industriais do Rio de Janeiro, que eram membros da Ação Integralista Brasileira (AIB), grupo de extrema direita simpatizante do nazismo. Alguns indícios desta conexão estão expostos em fotos, como a de um time de futebol no qual um homem segura uma bandeira com uma grande suástica. O símbolo também aparece marcado no pelo de um animal e em tijolos.

Cavalo marcado com a suástica

A parte mais terrível deste passado está na descoberta da história de 50 meninos, perto dos 10 anos de idade, que foram transferidos de orfanatos do Rio para a fazenda. O primeiro grupo teria chegado em 1933 e, aos garotos, era prometida uma vida melhor. No entanto, ao chegarem na fazenda, de acordo com o relato de alguns sobreviventes, a realidade era de trabalho, castigos e privações. Os garotos não eram chamados por seus nomes, mas por números. 

A história é tema do documentário Menino 23, dirigido por Belisario Franca. O filme acompanha as pesquisas de Sydney Aguilar e aborda as lembranças de sobreviventes como Aloísio Silva. Já idoso, ele relembra a terrível experiência que os meninos viveram na fazenda. Privado do uso de seu nome, ele era chamado apenas de “23”.

Em março de 2022, o governo de São Paulo promoveu o tombamento da fazenda. Na decisão, o estado considerou que o tombamento busca preservar a história do local e constitui uma "reparação simbólica do estado acerca da exploração de mão de obra de pessoas negras no século XX".
 

Fontes
UOL, BBC e G1
Imagens
menino23.com.br/Divulgação