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Os maiores distúrbios provocados por conflitos raciais nos Estados Unidos

Por History Channel Brasil em 02 de Junho de 2020 às 20:06 HS
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Os Estados Unidos têm um grande histórico de conflitos causados por tensões raciais. A Guerra Civil entre o norte e o sul do país, entre 1861 e 1865, teve a escravatura como pano de fundo. Apesar de a prática ter sido abolida ao fim da guerra, leis segregacionistas existiram nos EUA até meados dos anos 1960. A luta pelos direitos civis e contra a discriminação foi o estopim para diversos confrontos ao longo dos anos. No momento, manifestantes saem às ruas de diversas cidades para protestar contra a morte de George Floyd, asfixiado com o joelho por um policial em Minneapolis. Esse é o mais recente de uma série de conflitos que marcaram a história do país, confira alguns casos anteriores emblemáticos: 

O  massacre de Tulsa (1921)

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Imagem: Biblioteca do Congresso dos EUA, via Wikimedia Commons

Um dos maiores episódios de violência racial nos Estados Unidos aconteceu entre os dias 31 de maio e 1º de junho de 1921 em Tulsa, em Oklahoma. A cidade era bastante segregada. A maioria dos 10 mil moradores negros da cidade morava em um bairro chamado Greenwood, local onde funcionava um próspero distrito comercial conhecido como a "Wall Street Negra". 

O conflito aconteceu depois que um adolescente negro chamado Dick Rowland entrou em um elevador de um prédio. A ascensorista branca teria ficado assustada com ele e soltou um grito, o que fez com que o rapaz fugisse e acabasse preso. Boatos de que Rowland teria atacado sexualmente a mulher começaram a circular e uma multidão cercou a delegacia onde ele estava preso, ameaçando linchá-lo. Cerca de cem homens negros armados foram até o local para defendê-lo, mas acabaram confrontados por 1500 homens brancos que também carregavam armas. Houve tiroteio e confusão. 

Nas horas seguintes, grupos de brancos atacaram negros pela cidade, matando até mesmo um negro desarmado dentro de um cinema. Com rumores de que uma rebelião entre a população negra estava prestes a acontecer, milhares de brancos se dirigiram até o bairro negro de Greenwood para saquear lojas e invadir casas. Mais de 1200 residências foram incendiadas. Escolas, hotéis, igrejas e até um hospital foram alvo de ataques. Oficialmente, 36 pessoas morreram, incluindo 10 brancos, mas historiadores acreditam que o número real de mortos seja bem maior.

Marcha de Selma a Montgomery (1965)

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Imagem: Glen Pearcy/Biblioteca do Congresso dos EUA, via Wikimedia Commons

A marcha de Selma a Montgomery fez parte de uma série de protestos pelos direitos civis que ocorreram em 1965 no Alabama, estado do sul dos EUA onde políticas racistas eram profundamente arraigadas. Em março daquele ano, em um esforço para registrar eleitores negros na região, manifestantes decidiram marchar entre Selma e Montgomery, um percurso de 84 quilômetros. O ato também serviria para protestar contra a morte de Jimmie Lee Jackson, assassinado meses antes enquanto participava de uma manifestação pacífica. No trajeto da marcha, os participantes foram confrontados com violência pelas autoridades locais e grupos de vigilantes brancos. 

A marcha histórica foi liderada por Martin Luther King Jr., que havia recebido o prêmio Nobel da Paz no ano anterior. Ele queria fazer de Selma o foco de uma campanha de registro de eleitores negros nos EUA. Apesar de a Lei de Direitos Civis de 1964 ter proibido práticas eleitorais discriminatórias, autoridades dos estados do sul ainda criavam empecilhos para que os negros se registrassem para votar. 

Cerca de duas mil pessoas participaram da marcha. No dia 7 de março, que ficou conhecido como "Domingo Sangrento", os manifestantes foram agredidos com chicotes, cassetetes e gás lacrimogêneo por policiais. As imagens da violência foram transmitidas pela TV, gerando revolta entre a população. Dois dias depois, King liderou os manifestantes na travessia de uma ponte que havia sido bloqueada pelas autoridades. Naquela noite, um grupo de segregacionistas atacou outro manifestante, o jovem ministro branco James Reeb, que foi espancado até a morte. 

George Wallace, governador do Alabama, tentou proibir a continuidade da marcha, mas um juiz permitiu que o protesto prosseguisse. Em 21 de março, as tropas do Exército dos EUA e os guardas nacionais do Alabama  escoltaram os manifestantes pela ponte Edmund Pettus e pela Rodovia 80. Os manifestantes chegaram a Montgomery em 25 de março. Nas escadarias do Capitólio do Estado, King fez um discurso para uma multidão de 25 mil pessoas, que também foi transmitido pela TV. A marcha mobilizou o Congresso a aprovar uma lei que confirmava o direito de voto a todas as pessoas, retirando empecilhos usados como justificativas para evitar o registro da população negra.

Tumultos de Watts (1965)

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Imagem: New York World-Telegram/Biblioteca do Congresso dos EUA, via Wikimedia Commons

Entre 11 e 15 de agosto de 1965, o distrito de Watts, em Los Angeles, foi palco de uma série de tumultos. Tudo começou quando um homem negro chamado Marquette Frye foi preso sob suspeita de estar dirigindo embriagado. A ocorrência causou revolta em uma multidão que acreditava que Frye estava sendo tratado com discriminação.

Moradores de Watts, local que sofria há anos com o isolamento econômico e político, se revoltaram com a situação. Os manifestantes percorreram uma área de 80 quilômetros quadrados no sul do centro de Los Angeles, saqueando lojas, incendiando prédios e espancando brancos. O saldo de cinco dias de violência foi de 34 mortos, 1.032 feridos, quase 4 mil presos e US$ 40 milhões de prejuízo. 

Distúrbios de Detroit (1967)

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Imagem: Domínio público, via Michigan Radio

 Os distúrbios de Detroit estão entre os episódios mais sangrentos da história dos EUA. O conflito ocorreu quando a cidade enfrentava uma crise econômica e racial. O estopim foi uma batida da polícia em um bar ilegal na madrugada de 23 de julho. A confusão atraiu uma multidão de espectadores e a situação fugiu de controle rapidamente.

Em pouco tempo, milhares de pessoas se espalharam pelas ruas jogando pedras e garrafas na polícia, que rapidamente fugiu do local. Lojas e estabelecimentos da região também foram alvos de saques. Ao amanhecer, o primeiro incêndio eclodiu e logo grande parte da rua estava em chamas. 

No meio da manhã, as forças de segurança de Detroit foram chamadas para atender as ocorrências. Ma rua do bar clandestino, os policiais lutavam para controlar a multidão enquanto bombeiros que tentavam combater as chamas eram atacados. Os tumultos continuaram durante toda a semana, e o Exército dos EUA e a Guarda Nacional foram chamados para reprimir a violência. 

Cinco dias depois, 43 pessoas estavam mortas. Além disso, muitas outras ficaram gravemente feridas. Estima-se que 1.400 prédios foram incendiados ou saqueados.

Assassinato de Martin Luther King (1968)

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Imagem: Biblioteca do Congresso dos EUA, via Wikimedia Commons

Mais de cem cidades foram palco de revoltas após o assassinato do líder negro Martin Luther King, em  Memphis, no ano de 1968. A partir de 4 de abril, eclodiram distúrbios civis em lugares como Los Angeles, Trenton, Nova Jersey, Baltimore e Chicago. Apesar de King ser partidário da não-violência, houve mortos e feridos.

Em Baltimore, as tropas usaram baionetas e gás lacrimogêneo para manter os manifestantes à distância. Em Washington, o presidente Lyndon Johnson enviou quase 14 mil soldados federais para controlar a situação. Ao todo, 58 mil soldados da Guarda Nacional e do Exército se juntaram aos policiais para reprimir as revoltas. Os conflitos duraram uma semana. Ao menos 46 pessoas morreram e outras 3.500 ficaram feridas. Além disso, houve 27 mil prisões efetuadas. 

Absolvição dos policiais que espancaram Rodney King (1992) 

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Imagem: Ricky Bonilla, via Wikimedia Commons

Em 1991, em Los Angeles, quatro policiais foram filmados espancando Rodney King, um homem negro suspeito de dirigir embriagado. No ano seguinte, eles foram julgados e absolvidos, o que gerou uma grande revolta na população. Manifestantes bloquearam o tráfego nas rodovias, espancaram motoristas, destruíram e saquearam inúmeras lojas e edifícios do centro da cidade, provocando mais de 100 incêndios.

Enquanto isso, a violência se espalhou pela cidade. O governador da Califórnia, Pete Wilson, enviou a Guarda Nacional a pedido do prefeito Tom Bradley, e um toque de recolher foi declarado. Em pouco tempo, o caos dominou Los Angeles.

Os três dias de distúrbio resultaram em mais de 60 mortes e 2 mil feridos. Também houve 7 mil prisões efetuadas e quase US $ 1 bilhão em danos materiais.


Fonte: History.com

Imagem: AFP/Getty Images, via History.com