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Diários secretos revelam que Mengele nunca se arrependeu dos horrores do nazismo

Por History Channel Brasil em 25 de Agosto de 2020 às 20:12 HS
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Em 7 de fevereiro de 1979, um homem identificado como o austríaco Wolfgang Gerhard morreu afogado na praia de Bertioga, litoral de São Paulo. Por muito tempo houve a suspeita de que ele fosse, na verdade, o médico nazista Josef Mengele, conhecido como "Anjo da Morte". Em 1985, durante as investigações sobre sua verdadeira identidade, a Polícia Federal apreendeu documentos que pertenciam ao homem. No mesmo ano, sua ossada, enterrada em um cemitério de Embu das Artes (SP), foi exumada. 

Em 1992, exames de DNA comprovaram definitivamente que os restos mortais realmente pertenciam a Mengele. Enquanto isso, os documentos apreendidos pela PF ficaram esquecidos e só foram revelados ao público no ano de 2004, em uma reportagem da Folha de S. Paulo. Entre eles, estavam diários que o nazista havia escrito desde o fim da Segunda Guerra Mundial. 

Os diários secretos de Mengele revelam que ele manteve suas convicções nazistas até o fim de vida. Os textos são carregados de antissemitismo, declarações de superioridade da raça ariana e repulsa à Alemanha após o fim do Terceiro Reich. Os documentos não trazem um pingo de arrependimento em relação aos horrores do Holocausto.

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Richard Baer, Josef Mengele e Rudolf Höss em Auschwitz, 1944

Mengele é apontado como responsável pela morte de 400 mil judeus. Seus crimes de guerra foram cometidos enquanto atuou como Oficial Médico do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, posto que assumiu em 1943. Uma de suas tarefas consistia em receber os novos internos e decidir com um simples movimento de mão quem viveria e quem morreria. Os que recebiam a negativa eram enviados à câmara de gás para o seu extermínio imediato, enquanto os demais eram introduzidos ao campo onde sofriam os mais terríveis abusos.

Mengele ficou conhecido pelos experimentos médicos que realizava em humanos que ele considerava simplesmente "ratos judeus". Essas práticas incluíam a morte e dissecação de gêmeos, injeções de substâncias químicas nos olhos de prisioneiros e amputações de todo tipo. Os experimentos pseudocientíficos tinham como objetivo comprovar suas teses sobre a superioridade da raça ariana.

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Crianças sobreviventes de Auschwitz, 1945

Prevendo a derrota nazista na guerra, Mengele se preparou para fugir antes que fosse tarde demais. Saiu escondido de Auschwitz dias antes da chegada do Exército Vermelho. Conseguiu escapar da prisão depois da guerra, primeiro trabalhando em uma fazenda, cuidando de cavalos na Bavária. Em 1949, fugiu para a América do Sul. Ele se tornou um cidadão paraguaio em 1959 e, mais tarde, veio para o Brasil. Com a ajuda do verdadeiro Wolfgang Gerhard, de quem mais tarde assumiria a identidade, refugiou-se no Estado de São Paulo.

Os documentos escritos por Mengele após a guerra descrevem sua arrogância, ressentimento e rancor. Em um texto datado da época em que ainda estava escondido na Alemanha, o nazista zomba da inteligência "inferior" dos agricultores com quem trabalhava. 

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Em diários do fim dos anos 1960, ele chama a juventude alemã de “degenerada”, porque estaria deixando de lado suas tradições. Além disso, ele lamentava a forma como o legado de sua geração era desprezado na Alemanha. Um outro texto, escrito provavelmente no Brasil, em 1973, defende a superioridade de algumas raças em relação a outras. Nele, Mengele condena a miscigenação e sugere que a prática poderia levar à derrocada dos Estados Unidos. Para completar, ele também elogia o Apartheid, regime segregacionista da África do Sul. 

Outro texto traz comentários desabonadores sobre os judeus, desprezando suas origens, que descreve como uma mistura entre raças da Ásia Menor e do Oriente que "ao longo de sua migração de milhares de anos, receberam elementos de raças europeias e negroides". No documento, Mengele afirma que os judeus de destaque se beneficiaram do ambiente cultural de outros povos. "Pode-se perceber facilmente que seus representantes de intelectualidade acima da média sempre, e sem exceção, viviam com povos que tinham um alto nível cultural. Isso vale para Moisés (Egito), Einstein (Suábia), [...] Spinoza (Holanda-Espanha), Mendelssohn (Alemanha), [...] Mahler (Alemanha) [...]. Parece que o componente do povo hospedeiro desempenhou papel decisivo. Desses, parece que o alemão foi o mais efetivo", afirma.

No livro "Mengele: a História Completa", de Gerald Posner e John Ware, de 1986, Rolf, filho de Mengele já afirmava que seu pai não se arrependia de seu papel no Holocausto. Ele disse que muitas vezes tentou perguntar ao pai sobre Auschwitz, mas que as respostas eram sempre uma "verborragia" filosófica e pseudocientífica que tentava justificar suas ideias racistas.


 

Imagens: Domínio Público, USHMM, USHMM/Belarusian State Archive of Documentary Film and Photography,